Mercado
A guerra na Ucrânia, os juros e a inflação continuam no centro das atenções, seja na perspectiva local ou global. A continuidade do conflito mantém pressionados os preços de commodities, inclusive do petróleo, apesar de um alívio deste último após os EUA anunciarem a liberação de parte de suas reservas. Os choques inflacionários continuaram pressionando as expectativas de juros globais, com a taxa de juros de 2 anos do governo americano avançando de 1,4% a.a para 2,3% a.a e a de 10 anos de 1,8% a.a para 2,3% a.a em março. Os aumentos dos juros e das incertezas globais, por sua vez, devem pressionar o crescimento do mundo desenvolvido. A redução da inclinação da curva de juros americana, que chegou a ficar negativa em alguns momentos, corrobora com o cenário de redução da expansão da economia dos EUA. A situação da economia europeia não é mais encorajadora, pois esta, também está demonstrando dados de inflação persistente e está mais sujeita aos impactos da incerteza e da restrição do fornecimento de energia russa sobre a economia. A China, que também já vinha demonstrando dificuldades para a manutenção de seu crescimento, também não deve fornecer alívio para a economia global após o aumento dos lockdowns impostos pelo governo para impedir o alastramento da COVID-19.
No cenário local já estamos numa fase adiantada do ciclo de alta de juros e a sinalização do banco central brasileiro de que estamos nos aproximando do fim do ajuste da Selic, combinado à valorização do real, fez com que a curva de juros brasileira apresentasse forte contração. O dólar saiu de R$ 5,15 no final de fevereiro para R$ 4,74 no final de março, uma valorização de 8,0% no mês. A continuidade da valorização do real se dá num contexto de forte entrada de fluxo estrangeiro no intuito de capturar o diferencial atual dos juros locais e globais e em direção à bolsa brasileira pelas características de valor e de commodities do índice. Outro fator que favorece a entrada de fluxos para o Brasil no contexto da guerra Rússia – Ucrânia é que o Brasil é um dos poucos emergentes democráticos a apresentar um mercado suficientemente grande, líquido e barato para absorver um pouco do fluxo que sai dos mercados russos e de mercados não democráticos.
Apesar da inflação brasileira medida pelo IPCA ainda estar em patamar elevado, se aproximando de 11% a.a, os efeitos do ajuste já feito na taxa de juros básica, seus impactos defasados sobre a atividade e sobre a inflação, combinados à baixa probabilidade de choques da mesma magnitude nas commodities nos próximos meses e com a valorização do câmbio, devem colocar o índice de preços em trajetória de baixa. Nessa circunstância, a sinalização do Bacen de proximidade do fim de altas da Selic foi dotada de credibilidade e a curva de juros brasileira teve significativa queda em todos os seus vértices, apontando para reduções significativas da taxa básica em 2023. Os efeitos dos fluxos de investimentos, a queda da nossa curva de juros e um valuation descontado, servem de combustível para a onda positiva para o mercado acionário local que apresentou forte valorização em março, com alta de 6,0% no Ibovespa.
O cenário, portanto, favoreceu os ativos locais e deve continuar a fazê-lo caso não haja novos fatos para sua inflexão. Os principais pontos de atenção para uma interrupção da tendência atual da perspectiva global seriam o agravamento drástico da guerra, com envolvimento de mais países ou uso de armas de significativo maior poder de destruição ou um cenário de choques econômicos graves derivados da desaceleração econômica e do aumento de juros nos países desenvolvidos. Ambos os cenários nos parecem pouco prováveis. Na cena local, os pontos de atenção são, como sempre, os ligados à política fiscal e à trajetória da dívida federal brasileira. A arrecadação tributária atual tem continuado forte, inclusive graças à alta dos preços das commodities. A proximidade das eleições, dada a legislação, deve impedir o governo de aprovar medidas drásticas nos próximos meses, apesar das tentativas que acompanhamos no início deste ano. As atenções devem se voltar cada vez mais à política a ser adotada após as eleições. Com a recuperação de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto, a desistência e as movimentações políticas de alguns candidatos tornam cada vez mais forte a possibilidade de disputa entre Bolsonaro e Lula. A hipótese de busca pelo centro de ambos os candidatos de forma a conquistar maior base de eleitores também se fortalece nesse cenário, reduzindo temporariamente a percepção do risco fiscal.
AÇÕES: BUTIÁ FUNDAMENTAL (LONG ONLY e LONG BIASED):
O Butiá Fundamental FIC FIA teve alta de 3,3% em fevereiro, levando sua alta a 8,9% no ano. O Butiá Fundamental Long Biased FIC FIM, subiu 0,4% no último mês, acumulando alta de 5,5% no ano. O Ibovespa rendeu 6,3% no mês e 14,7% no ano. O índice Small Caps apresentou uma alta de 8,8% no mês e 6,7% no ano. A rentabilidade do CDI foi de 0,9% no mês e de 2,4% no ano. O fator dominante nas altas deste mês foi a queda das taxas de juros, favorecendo principalmente os papéis domésticos e de crescimento.
Nosso portfólio, teve suas principais contribuições advindas dos setores industriais e de consumo discricionário, com forte alta de nossa posição em Vamos. Vamos é uma de nossas maiores apostas, que representa muito bem o perfil de empresas que procuramos, estando em um mercado pulverizado, em fase de crescimento, onde a empresa possui diferenciais competitivos. Nesse caso, graças à sua liderança, escala e uma gestão de alta qualidade. No setor de consumo, tivemos destaque positivo com Lojas Quero Quero, que após forte queda por resultados não tão bons de curto prazo, ficou demasiadamente barata frente ao forte crescimento e rentabilidade que deve apresentar. Ainda em consumo tivemos como destaque negativo nossa posição em Grupo Mateus, que deve continuar apresentando dificuldades em um cenário de inflação alta que pressiona a capacidade de consumo de seu público-alvo no norte e nordeste, mas acreditamos na execução e crescimento da companhia, aproveitando a queda para reforçar nossa posição visando o longo prazo. A queda de juros também favorece nossos papéis de utilities por sua característica relativamente mais parecida com a de títulos de renda fixa.
No caso dos papéis menos ligados aos juros locais e mais ligados ao cenário internacional, tivemos ganhos em nossa posição em Vale, com a manutenção dos altos preços do minério de ferro. Nossas posições no setor de óleo e gás tiveram comportamentos mistos. Petrobras tem apresentado uma novela com relação a sua política de preços, possíveis medidas governamentais de contenção das altas dos preços de combustível e indicações para sua presidência e seu conselho, levando o papel a ficar relativamente estável no último mês. Tivemos perdas em Petrorio por notícias de dificuldades para finalizar as negociações com a Petrobras, relativas às aquisições dos campos de Albacora. Do lado positivo tivemos a performance de 3R, que além de estar descontada, com crescimento de produção e surfar a alta do petróleo, apresentou a indicação de dois novos membros para o seu conselho de administração, Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobras, e Harley Lorentz Scardoelli, ex-vice-presidente da Gerdau, nomes que agregam muito em qualidade técnica e governança.
Apesar do cenário de riscos não ter aliviado, o cenário de baixa de juros, atração de fluxos e valuations descontados, nos fez levar nossa exposição em bolsa para próxima à neutra, com aumento na alocação em Grupo Mateus e o início de uma posição em Oncoclínicas, uma empresa de qualidade que atua em um setor defensivo e vem consolidando seu nicho de atuação. A carteira ainda é composta por uma combinação de alocação em companhias com dinâmica própria, da qual o crescimento deve ser forte mesmo no caso de uma desaceleração da economia e as ações se encontram com valuations muito atraentes, alocação em empresas que atuam em setores defensivos, cuja demanda é resiliente, e alocação em companhias exportadoras, que dependem mais da economia global, do desenrolar da guerra e do câmbio. Mesmo com a queda dos juros e a performance das ações domésticas e de menor capitalização no último mês, ainda não acreditamos que é o momento para se ter uma carteira agressiva, mas sim equilibrada, devido à elevada incerteza, à desaceleração econômica e à atratividade de algumas empresas de commodities.
MULTIMERCADO: BUTIÁ EXCELLENCE E PREVIDÊNCIA
O Butiá Excellence FIC FIM apresentou uma rentabilidade de 1,3% em março e de 3,5% no ano. Já o Butiá Excellence Previdência FIC FIM, teve retorno de 1,8% no mês e de 3,9% no ano. A rentabilidade do CDI foi de 0,9% no mês e de 2,4% no ano. As principais contribuições vieram das posições que se beneficiam das quedas nas taxas de juros brasileiras e nas altas das taxas de juros americanas de 10 anos. As maiores perdas vieram da alocação que aposta na queda da inflação implícita brasileira.
A alocação na parte comprada da taxa de juros americana de 10 anos, em nossa visão, continua a representar um bom investimento devido à persistência inflacionária global. A inflação global e a alta dos juros longos devem continuar. São elementos, os impactos inflacionários herdados dos efeitos da COVID-19 sobre a economia, políticas monetárias e fiscais adotadas no período, os impactos inflacionários advindos da guerra Rússia – Ucrânia, e a impossibilidade dos países desenvolvidos de realizarem uma política monetária muito agressiva no curto prazo, devido aos tamanhos de seus endividamentos.
No Brasil, os efeitos do ajuste já feito na taxa de juros básica e seus impactos defasados sobre a atividade e sobre a inflação, combinados à baixa probabilidade de choques da mesma magnitude nas commodities nos próximos meses e com a valorização do câmbio, devem colocar o índice de preços em trajetória de baixa, favorecendo nossas posições que apostam nas quedas das taxas de juros e da inflação implícita. Essa queda dos juros por sua vez, em combinação com os efeitos dos fluxos de investimentos e um valuation descontado, servem de combustível para a onda positiva para o mercado acionário brasileiro.
Com o cenário de incerteza global, o nível de valuation atual, a persistência da inflação e a provável desaceleração econômica no mundo desenvolvido, montamos uma posição vendida em ações no exterior. No momento também evitamos o dólar como ativo de proteção da carteira pelo alto custo de carrego, além da possibilidade de mais entrada de fluxo estrangeiro, seja pelo diferencial de juros brasileiros e globais após as seguidas altas da Selic, seja pela possibilidade da continuidade da entrada de fluxo da moeda para alocação em bolsa buscando ativos de commodities e de valor.