Cenário Macro – Agosto/ 2024
O mês de agosto começou diante de um aumento inesperado da taxa de juros por parte do Bank of Japan, BOJ, que afetou o carry trade dos hedges funds globais, o que somado a dados do mercado de trabalho fracos, gerou uma grande correção nas bolsas globais logo no início do mês. Ao longo do mês, com a divulgação de dados econômicos de atividade mais resiliente, o mercado se normalizou, interrompendo o movimento de risk off.
O processo de arrefecimento da inflação nos últimos meses nos EUA continua bastante positivo e, diferente do último trimestre de 2023, notável em quase todos os grupos do Índice de Preços ao Consumidor. O CPI de julho mostrou uma variação de 0,15% m/m, atingindo 2,50% nos últimos 6 meses anualizados. O Super-Core CPI, medida que apresenta componentes com uma resistência maior à política monetária, variou 0,21% m/m e já apresenta uma tendência de queda clara no YoY. O, Índice de Preço de Consumo Pessoal, o PCE, divulgado no final do mês também deu continuidade a boa safra de dados, com o núcleo vindo em 1,72% nos últimos 3 meses anualizados, já abaixo da meta do FED de 2%.
A ata do FOMC deixou claro o início do ciclo de cortes, descrevendo que “a vasta maioria dos participantes considerou que, se os dados continuassem vindo conforme o esperado, provavelmente seria apropriado afrouxar a política na próxima reunião”. Corroborando com a ata, durante o discurso no Jackson Hole, o presidente do FED deu ênfase a uma balança de riscos pior, principalmente quando se trata de mercado de trabalho, declarando que está na hora da política monetária se ajustar, confirmando uma importante mudança na função reação do FED.
Na China, o governo anunciou um novo programa de housing, onde ele irá disponibilizar special bonds para o financiamento de casas novas não vendidas, ainda em busca de maneiras de estabilizar o mercado imobiliário e reconquistar a confiança do consumidor chinês. O minério de ferro, commodity mais influenciada pela China, vem sofrendo com uma atividade industrial mais fraca, confirmada pela última leitura do PMI industrial, e já acumula uma perda de cerca de 30% desde o início do ano.
No Brasil o panorama interno continua a se deteriorar no âmbito fiscal. Apesar de demonstrar uma certa preocupação com o cumprimento da meta de 2024 e de ter apresentado o planejamento de 2025, o governo optou por não gastar capital político e não atacou o cerne da questão, como o reajuste do salário-mínimo. Na verdade, continuam buscando o ajuste por meio do aumento de receitas com medidas bastantes incertas, como o CARF e novos aumentos de impostos, alguns dependendo de aprovações no congresso, além de continuarem subestimando os números de despesas e superestimando os números de arrecadação no planejamento.
Impulsionado por um fiscal expansionista, os dados de atividade econômica e de desemprego continuam surpreendendo positivamente. A taxa de junho atingiu 6,9%, o menor número desde 2014, com várias métricas do mercado de trabalho em patamares superaquecidos. O crescimento da massa salarial continua fortalecendo a demanda por consumo e isso refletiu nos números mais fortes da produção industrial de junho, que veio bem acima do esperado.
Assim como comentamos na última carta, o bom momento de desaceleração da inflação parecia ter passado e no mês de agosto isso ficou evidente. A recente desvalorização cambial, o aumento de preços de energia e o mercado de trabalho pujante junto de uma sazonalidade ruim no final do segundo semestre apontam para uma piora gradual dos números inflacionários daqui adiante. O IPCA de julho veio acima da expectativa, com alguns itens já pressionados pelo câmbio e o acumulado em 12 meses bem próximo ao limite do teto da meta.
A ata do COPOM divulgada no mês de agosto colocou em questão uma balança de risco assimétrica, com maiores riscos de alta para inflação no curto e médio prazo, com um discurso que buscou reafirmar a tecnicidade do Banco Central e confirmando a possibilidade de um ajuste de alta caso seja necessário. Apesar disso, ao longo do mês houve algumas falas de diretores do BC que mostraram uma certa ambiguidade de ideias entre os integrantes, fazendo com que o mercado colocasse prêmio ao longo de toda a curva.
Todos os fatores citados causam uma pressão por um novo ciclo de ajuste de alta na Selic nas próximas reuniões. O mercado já precifica um ciclo de 175bps de alta com uma probabilidade de já iniciar com 50bps na próxima reunião. Entretanto, com a concretização do corte por parte do FED, somado ao fato do próprio modelo do BC apontar para uma inflação de 3,1% no horizonte relevante (1T26), ou seja, ao redor da meta de 3%, nos perguntamos se de fato é necessário tamanho ajuste. Fato é que, enquanto o BC pisa no freio da política monetária, o governo acelera com a política fiscal, como consequência dessa divergência o BC precisa apertar ainda mais as condições financeiras para cumprir sua função, o que pode significar manter os juros elevados por um horizonte maior.
Mercado de Crédito Privado – Agosto/ 2024
O cenário econômico em agosto continua a ser marcado por incertezas em torno das políticas fiscais e monetárias. A curva de juros está precificando uma alta da Selic, influenciada pela postura mais conservadora manifestada nas recentes declarações do Banco Central (BC), o que tem mantido um ambiente doméstico volátil.
Observamos uma alteração na inclinação da curva de juros nominal em relação a julho, acompanhada por uma significativa abertura dos prêmios de curto prazo. Esse movimento reflete o aumento das expectativas de uma elevação na taxa Selic durante a próxima reunião do Copom, mesmo que o consenso do mercado mantenha a previsão de estabilidade para dezembro de 2024.
Entretanto, se a possibilidade de uma nova alta na taxa de juros se concretizar na próxima reunião do Copom, agendada para 18 de setembro, empresas com maior alavancagem e sensibilidade ao ciclo econômico poderão enfrentar pressões adicionais. Assim, mesmo com os spreads ainda em níveis relativamente baixos, é fundamental priorizar ativos com um perfil de crédito mais robusto, especialmente em face da crescente volatilidade no ambiente doméstico.
O spread médio dos papéis com ratings mais altos (AAA e AA) – high grade mantém uma trajetória de estabilidade, embora com um leve declínio, especialmente entre as debêntures indexadas ao IPCA. Neste caso observamos um fechamento mais acentuado dos spreads. Já os prêmios exigidos para títulos com classificação A continuam a se descolar em magnitude significativa.
Em agosto, o volume de emissões de debêntures totalizou R$ 26 bilhões, menor volume desde fevereiro deste ano, representando uma queda de 21% em comparação a julho. Essa retração reflete a diminuição na demanda das empresas por crédito, resultado da perspectiva de juros elevados por um período prolongado, após um primeiro semestre marcado por captações recordes. Desde o início do ano, as emissões primárias já superaram a marca de R$ 280 bilhões. No mercado secundário de debêntures, o volume de negociações também demonstra estar aquecido, no mês de agosto as debêntures não incentivadas negociaram R$ 42,1 bilhões e as incentivadas cerca de R$ 28,1 bilhões, totalizando cerca de R$ 70 bilhões de volume negociado no mês.
BUTIÁ TOP CRÉDITO PRIVADO FIC FIRF
Em agosto, o BUTIÁ TOP CRÉDITO PRIVADO FIC FIRF apresentou rentabilidade de +1,02% (117,54% do CDI). Nos últimos 12 meses, o fundo acumulou retorno de +13,26% (118,27% do CDI). O carrego bruto no final do mês fechou em CDI + 0,90%, e a duration de 2,29 anos.
O fundo beneficiou-se do fechamento dos spreads da grande maioria dos ativos que compõem o portfólio. Como destaque positivo de performance, tivemos as posições de Copasa, Vix, Rede D’Or e Energisa.
Seguimos com uma postura seletiva na compra de títulos, dado o nível de preços. Durante o mês não realizamos mudanças significativas nas nossas posições. Para frente, enxergamos oportunidades interessantes em ativos bancários e de operações estruturadas.
BUTIÁ TOP ICATU SEG PREVIDÊNCIA FIRF CP
Em agosto, o BUTIÁ TOP ICATU SEG PREVIDÊNCIA FIRF CP apresentou rentabilidade de +1,02% (117,42% do CDI). Nos últimos 12 meses, o fundo acumula retorno de +12,96% (115,62% do CDI). Ao final do mês, o carrego bruto encerrou em CDI +1,06% e a duration de 2,66 anos.
A dinâmica do fundo foi semelhante à do BUTIÁ TOP CRÉDITO PRIVADO FIC. Como destaque positivo de performance, tivemos as posições Copasa, Vamos, Meal e Iguatemi.
Durante o mês não realizamos mudanças significativas nas nossas posições. Para frente, seguimos enxergando oportunidades interessantes em ativos bancários e de operações estruturadas.
BUTIÁ PLUS CRÉDITO PRIVADO FIRF LP
No mês de agosto, o BUTIÁ PLUS CRÉDITO PRIVADO FIRF LP apresentou rentabilidade de +1,06% (121,82% do CDI). Nos últimos 12 meses, o fundo acumulou retorno de +13,55% (120,92% do CDI). Ao final do mês, o carrego bruto fechou em CDI + 1,82% e a duration de 2,34 anos.
Durante o mês, o fundo beneficiou-se do fechamento dos spreads da grande maioria dos ativos que compõem o portfólio. Como destaque positivo de performance, tivemos as posições Vix, Simpar, Localiza e Cosan.
BUTIÁ DEBÊNTURES FUNDO INCENTIVADO INFRAESTRUTURA RF LP
Em agosto, o BUTIÁ DEBÊNTURES FUNDO INCENTIVADO INFRAESTRUTURA RF LP apresentou rentabilidade de +0,16% no mês. Nos últimos 12 meses, o fundo acumulou retorno de +9,04%, líquido de IR. O yield da carteira encerrou o mês em 6,66%, o que representa um prêmio de 0,26% sobre a ETTJ (Estrutura a Termo de Taxas de Juros de mesma duration da carteira), a duration ao final do mês era de 4,36 anos.
O resultado proveniente de risco de mercado foi positivo para o nosso fundo. Quando olhamos a performance dos principais índices atrelados aos Títulos Públicos IPCA+, o IMA-B 5, IMA-B e IMA-B 5+ renderam, respectivamente 0,59%, 0,52% e 0,77%. Sobre o comportamento dos spreads de crédito, observamos estabilidade no mês.
O Fundo de debêntures incentivadas, tem a prerrogativa de manter 85% da sua carteira em debêntures destinadas ao financiamento de infraestrutura pela lei 12.431, concedendo assim a isenção de IRRF ao seu cotista. Nosso mandato então, se adequa a filosofia de investimentos em projetos que devem fomentar o crescimento econômico e por isso, referenciamos o nosso fundo ao IDA IPCA Infra, benchmark que em nosso entendimento tem maior alinhamento de interesses com os cotistas e corrobora com a visão de longo prazo da estratégia.
- Títulos com remuneração baseada em índices de preço, como IPCA, podem ter o valor financeiro alterado retroativamente, devido à substituição da variação projetada do índice pela variação oficial.
Mercado de Ações – Agosto/ 2024
No mês de agosto, o Butiá Fundamental FIC FIA registrou uma alta de 4,1%, acumulando um retorno positivo de 2,7% em 12 meses. O Butiá Long Biased FIC FIA teve uma alta de 3,2% no mês, e nos últimos 12 meses, sobe 3,8%. Em comparação, o Ibovespa teve uma alta rendimento mensal 6,5% e acumula um ganho de 15,7% em 12 meses.
O mês de agosto foi marcado por um avanço relevante nos ativos de risco brasileiros. O ambiente externo contribuiu novamente com uma melhora das condições monetárias nos EUA. Esse fator ainda foi catalisado com uma melhora da percepção geral com relação às mudanças que ocorrerão no nosso Banco Central no curto prazo.
A principal contribuição de performance dos fundos no mês veio do Itaú. O banco, que segue sendo dominante em suas áreas de atuação, mostrou a continuidade de seu bom momento operacional no último trimestre, e nesse mês se beneficiou do fluxo estrangeiro para a bolsa. O Grupo Mateus foi outra contribuidora após divulgar um robusto resultado trimestral e ter mostrado um forte apetite para expansão de lojas, via estratégia orgânica ou via M&As.
As companhias que contribuíram mais negativamente no período foram Localiza e Vamos. A primeira foi fortemente impactada pela divulgação de seus resultados trimestrais, que ficou aquém das expectativas do mercado. A segunda, além de ter sido prejudicada pela divulgação, foi também foi impactada pela reavaliação de seu rating de crédito sob piores condições. Seguimos acreditando que ambas as companhias representam grandes oportunidades de investimentos.
Ainda que os ativos de risco tenham performado, continuamos vendo atratividade de retornos na bolsa brasileira, tanto em termos relativos quanto históricos. Após essa performance, no entanto, aumentamos nossa posição em caixa e seguimos mais seletivos com relação aos ativos na medida em que aguardamos sinais de melhora marginal na economia local.
Multimercado – Agosto/ 2024
Em agosto, observamos a continuidade do movimento de recuo da curva de juros americana e seus impactos positivos para os ativos de risco. Já são precificados aproximadamente 4 cortes de 25 pontos base no último trimestre do ano, um corte total de 1,0%, na taxa de juros básica do país. O desaquecimento econômico e consequente queda da inflação, que vêm abrindo espaço para estes cortes de juros continua sendo saudável, mas os riscos de uma desaceleração mais brusca que o planejado existe, levando atenção aos dados de emprego, que também tem se tornado maior foco do FED agora que os índices de preço estão mais controlados. Demais economias avançadas também mostram desaceleração na inflação e várias já iniciaram seus próprios cortes de juros básicos. A China também continua desacelerando, mas nesse caso de maneira pouco saudável, e seu mercado imobiliário continua com problemas, pressionando as commodities metálicas, como o minério de ferro, para baixo.
Na questão geopolítica, não tivemos avanços significativos. A Ucrânia continua a pressionar a Rússia com avanços em seu território. As tensões entre Israel com o Irã e suas proxys continuam a aumentar, mas ainda sem uma escalada que gere uma guerra aberta ou maior envolvimento militar americano. Essas forças, em combinação com o desaquecimento econômico global e com a probabilidade de que a Opep reverta mais cortes de produção, têm mantido o petróleo em níveis de preço próximo aos 80 dólares por barril.
Apesar da queda da curva de juros americanos, a curva brasileira não tem cedido. Os péssimos dados fiscais têm pressionado as expectativas para os juros, para a inflação e para o câmbio. As projeções de inflação seguem acima da meta nos próximos anos, e com o dólar por volta de R$5,60, o Banco Central deve ser forçado a subir os juros nas próximas reuniões, em que o mercado precifica aumentos entre 25 e 50 pontos base em todas as reuniões a partir de setembro até atingirmos uma taxa acima de 12,25% no início de 2025. O Focus aponta projeções menores para a Selic, mas acreditamos que estes números devem convergir em alguma medida nas próximas semanas.
Falas confusas e divergentes de diretores do Banco Central têm tornado o cenário menos claro, mas elencamos como principal motivo para acreditarmos que o BC deveria subir a Selic já na próxima reunião, a credibilidade. É necessário transmitir ao mercado que a nova composição da diretoria do banco irá priorizar o controle inflacionário, de maneira independente às vontades do planalto de incentivar o crescimento econômico de curto prazo. Caso não o faça, ao menos de maneira gradual, o Banco Central arrisca reduzir a confiança na convergência da inflação e na sua disposição a subir os juros quando necessário, gerando desvalorização do real e aumento da inclinação dos juros, ou seja, a crença de que será necessário subir os juros ainda mais no futuro. O efeito contrário poderá ser observado caso haja um aumento dos juros aliado a um discurso “hawkish”, provavelmente até reduzindo o tamanho do ajuste total necessário, devido à recuperação de credibilidade e do valor da moeda brasileira.
Nos fundos multimercado, no mês de agosto, tivemos como principais contribuições positivas as posições compradas em ações no Brasil. Como principal contribuição negativa, tivemos a posição aplicada em real contra o dólar. Os níveis atuais do dólar contra o real e da curva de juros brasileira nos parecem já precificar um cenário pessimista. Apesar de corroborarmos com a visão de que o cenário é sim, negativo, enxergamos uma pequena assimetria para ficarmos com leves posições comprados em real contra o dólar e aplicados na parte curta da curva de juros brasileira, especialmente quando consideramos o início da flexibilização monetária nos Estados Unidos fora de um contexto de recessão. Reduzimos nossa posição em bolsa brasileira a praticamente zero, pois graças à entrada de fluxo estrangeiro no mercado de ações no último mês, impulsionado pelo cenário benigno americano, o Ibovespa teve performance oposta à dos juros e do real, subindo 6,5%, renovando seu recorde. Assim a assimetria da bolsa, apesar da mesma ainda se encontrar barata, se tornou menos interessante quando comparada à das outras classes de ativos. Continuamos a manter a posição comprada em ouro como tese conjuntural e de proteção geopolítica. Por último, reduzimos levemente nossa posição em bolsa americana, após mais um mês de alta no S&P.