Cenário Macro – Junho/ 2024
O mês de junho trouxe dados que dão continuidade ao cenário que vem sendo escrito em nossas últimas cartas: desaceleração saudável do mercado de trabalho e da inflação sem grandes impactos na atividade econômica. O payroll de junho superou as expectativas, com a criação de 272 mil novas vagas, bem acima do limite superior da projeção do mercado. Apesar do dado positivo, o relatório de oferta de emprego, o JOLTS, deu continuidade na tendência de normalização, fazendo com que métrica, bastante acompanhada pelo FED, de vagas de emprego por desempregado atingisse 1,24, número ainda considerado alto, porém bem abaixo do pico de 2,01 de março de 2022. A taxa de desemprego subiu ligeiramente para 4,00%, comparada a 3,90% no mês anterior.
Na perspectiva inflacionária, o último número do CPI representou o segundo dado consecutivo de surpresa positiva. O número cheio mostrou uma desaceleração de 0,31% para 0,01% m/m, com o núcleo vindo abaixo do esperado, registrando 0,16% contra a expectativa de 0,29%, sendo puxado principalmente por um forte arrefecimento dos subgrupos de serviços de saúde e transporte.
O FOMC optou por manter a taxa de juros inalterada, mas ajustou suas previsões, indicando menos cortes de juros para esse ano e uma taxa terminal mais alta do que na reunião passada. O discurso do presidente Jerome Powell foi neutro, refletindo a cautela diante de um cenário econômico incerto e a continuidade da dependência de novos dados que confirmem a desaceleração da inflação.
Na China, os dados econômicos de junho apresentaram um panorama misto. Enquanto o mundo inteiro vem desempenhando uma batalha para levar a inflação para a meta, a China não tem o mesmo problema, no último dado divulgado o CPI chinês registrou uma queda na inflação anualizada de 0,4% para 0,3%, com o dado mensal mostrando uma deflação de 0,1%. Apesar disso, o setor imobiliário continua em ajuste, os preços dos imóveis continuaram em queda, refletindo a fragilidade do mercado imobiliário.
No Brasil, a revisão do PIB do primeiro trimestre surpreendeu, com a grande surpresa vindo na parte de investimentos e no consumo das famílias, destacando a resiliência da atividade econômica brasileira. O IPCA de maio foi de 0,46%, acima do esperado 0,42%, apesar da piora ligeira no número cheio, qualitativamente o dado não veio bom, já que apresentou uma aceleração da inflação de serviços, possivelmente relacionado ao mercado de trabalho forte.
O COPOM decidiu manter a taxa de juros inalterada, com uma decisão unânime, algo que preocupava o mercado depois do dissenso da reunião de maio. A ata do COPOM destacou uma postura mais cautelosa do comitê, preocupado com a trajetória da expectativa da inflação, com desvalorização do real e com a contínua deterioração da situação fiscal do país. Parte do partido governo parece já ter percebido que será necessário um ajuste na parte dos gastos, porém nada concreto foi feito.
Diante da situação fiscal em contínua piora e de discursos recentes do presidente que não demonstrou ter preocupação com esse cenário, o câmbio desvalorizou mais de 6% somente no mês de maio e a curva de juros fez um movimento paralelo para cima. O índice Ibovespa subiu cerca de 1,50%, com as empresas com receitas atreladas ao dólar se destacando perante as outras.
Mercado de Crédito Privado – Junho/ 2024
Cenário da Renda Fixa em junho de 2024: junho foi marcado por forte volatilidade no mercado de renda fixa, com a curva de juros subindo e renovando máximas. Esse movimento foi impulsionado por diversos fatores:
- Preocupações com o Risco Fiscal: Declarações do poder executivo sobre a resistência a cortes de despesas, aumentaram as apreensões sobre a capacidade do governo de ajustar as contas públicas.
- Desvalorização Cambial Persistente: A contínua desvalorização do Real em relação ao Dólar, com a moeda americana cotada perto de R$ 5,60 no final do mês, pressiona as expectativas de inflação e eleva os juros de curto prazo.
- Críticas à Atuação do Banco Central: Crescentes críticas à política monetária do Banco Central por parte de membros do governo, em meio à inflação acima da meta e economia ainda acelerada, geram incertezas no mercado.
- Dados de Inflação Abaixo do Esperado: Apesar de a inflação ter ficado abaixo do previsto tanto no Brasil (IPCA-15) quanto nos EUA, o resultado não foi suficiente para conter a alta dos juros, fazendo o Brasil se descolar do movimento de fechamento de juros global observado em junho pelo aumento de riscos internos.
Curva de Juros Prefixados: O movimento de alta nas taxas deslocou todos os pontos da curva para cima, levando o trecho longo a níveis próximos de 12,5% ao ano, pico não visto desde abril de 2023. O cenário embutido nas curvas sugere taxas médias da Selic de:
- 10,75% ao ano no segundo semestre de 2024;
- 11,75% ao ano no primeiro semestre de 2025;
- 12,25% ao ano na segunda metade de 2025.
Curva de Juros Reais (IPCA+): Elevação uniforme nas taxas de juros na curva IPCA+, que subiram e alcançaram um nível médio de 6,5% ao ano ao final do mês.
Apesar do cenário interno desafiador e da alta volatilidade observada durante o mês, o mercado de crédito segue aquecido, sendo junho o mês com o terceiro maior volume de emissões primárias do ano, alcançando R$ 58,6 bilhões, demonstrando a pujança do mercado e a busca por crédito pelas empresas. Contudo, observa-se queda na distribuição por bancos coordenadores, com apenas 37% das emissões em junho distribuídas por esses agentes, menor percentual do ano.
Além disso, as captações líquidas dos fundos de renda fixa seguem robustas, tanto os fundos de crédito, R$ 44,5 bilhões, quanto os de infraestrutura, R$ 8,6 bilhões, registraram captações líquidas expressivas, o que aumenta a demanda por títulos no mercado secundário. Esse movimento segue pressionando os spreads de crédito, que continuaram em trajetória descendente durante o mês, chegando a 53 bps sobre as NTN-B e 186 bps sobre o CDI, apesar de já ser observado estabilidade e até leves aberturas de spreads em alguns papéis.
Nesse cenário, permanecemos mais cautelosos nas alocações dos fundos de crédito e carregando um maior nível de caixa nesse momento. De fatos relevantes com relação a ativos que possuímos nas carteiras dos fundos de CDI, tivemos atualizações no caso da Dasa, onde foi oficialmente anunciada no dia 6 de junho de 2024 a fusão com a Amil, através da assinatura de um acordo pelas duas empresas. No mês passado, já havia sido divulgado o compromisso da família controladora de realizar um aporte de R$ 1,5 bilhão na empresa, condicionado à venda de ativos no valor de R$ 2,5 bilhões. Ambas as notícias contribuíram para as negociações no secundário voltarem a negociar abaixo de CDI + 4,5%. A fusão da Amil e Dasa gera expectativas de melhora na eficiência e poder de barganha, com maior escala e oferta de serviços. No entanto, reconhecemos os desafios da integração e a necessidade de monitoramento próximo.
BUTIÁ TOP CRÉDITO PRIVADO FIC FIRF
Em junho, o BUTIÁ TOP CRÉDITO PRIVADO FIC FIRF apresentou rentabilidade de +0,90% (113,74% do CDI). Nos últimos 12 meses, o fundo acumulou retorno de +14,24% (121,80% do CDI). O carrego bruto no final do mês fechou em CDI + 1,02%, e a duration de 1,88 anos.
Na atribuição de performance do fundo, tivemos contribuição positiva vindo das posições de Banco ABC, Dasa e Itaúsa. Já na ponta detratora, tivemos Oncoclínicas.
Durante o mês não realizamos mudanças significativas nas nossas posições. Para frente, seguimos enxergando oportunidades interessantes em ativos bancários e operações estruturadas.
BUTIÁ TOP ICATU SEG PREVIDÊNCIA FIRF CP
Em junho, o BUTIÁ TOP ICATU SEG PREVIDÊNCIA FIRF CP apresentou rentabilidade de +0,84% (106,74% do CDI). Nos últimos 12 meses, o fundo acumula retorno de +13,84% (118,36% do CDI). Ao final do mês, o carrego bruto encerrou em CDI +1,10% e a duration de 2,08 anos.
Durante o mês, a dinâmica do fundo foi semelhante à do BUTIÁ TOP CRÉDITO PRIVADO FIC. Em relação às atribuições de performance, tivemos contribuição positiva vindo das posições de Cosan, Iguatemi e Rede D’or. Já na ponta detratora, tivemos Oncoclínicas e Jalles Machado.
Durante junho, não realizamos mudanças significativas nas nossas posições. Para frente, seguimos enxergando oportunidades interessantes em ativos bancários e operações estruturadas.
BUTIÁ PLUS CRÉDITO PRIVADO FIRF LP
No mês de junho, o BUTIÁ PLUS CRÉDITO PRIVADO FIRF LP apresentou rentabilidade de +0,93% (118,46% do CDI). Nos últimos 12 meses, o fundo acumulou retorno de +14,47% (123,78% do CDI). Ao final do mês, o carrego bruto fechou em CDI + 1,77% e a duration de 2,32 anos.
Na atribuição de performance do fundo, tivemos as emissões de Dasa, Banco ABC e Vix Logística contribuindo de maneira positiva. Já na ponta contrária, tivemos como detrator as emissões de Oncoclínicas.
Sobre o caso de Light, no mês passado comentamos detalhes do plano de recuperação judicial proposto pela companhia, que foi aprovado em AGC no dia 29 de maio por 99,12% dos credores. Conforme esperávamos, a 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro homologou o plano de recuperação judicial da Light, oficializando sua aprovação. Conforme comentamos em nossas cartas anteriores, seguimos carregando a posição em uma debênture da companhia, porém, ela corresponde a um percentual pequeno do patrimônio do fundo.
Durante junho, não realizamos mudanças significativas nas nossas posições. Para frente, seguimos enxergando oportunidades interessantes em ativos estruturados.
BUTIÁ DEBÊNTURES FUNDO INCENTIVADO INFRAESTRUTURA RF LP
Em junho, o BUTIÁ DEBÊNTURES FUNDO INCENTIVADO INFRAESTRUTURA RF LP apresentou rentabilidade de -0,32% no mês. Nos últimos 12 meses, o fundo acumulou retorno de 6,05%, líquido de IR. O yield da carteira encerrou o mês em 6,86%, o que representa um prêmio de 0,67% sobre a ETTJ (Estrutura a Termo de Taxas de Juros de mesma duration da carteira), a duration ao final do mês era de 4,67 anos.
O resultado proveniente de risco de mercado foi negativo para o nosso fundo. Quando olhamos a performance dos principais índices atrelados aos Títulos Públicos IPCA+, o IMA-B 5, IMA-B e IMA-B 5+ renderam, respectivamente 0,39%, -0,97% e -2,25%.
Sobre o comportamento dos spreads de crédito, observamos certa estabilidade, com leve abertura dos spreads de crédito em alguns nomes para os ativos high grade.
Tivemos como destaque positivo de performance as emissões de Brisanet, Algar e Cagece, enquanto as emissões de Pampa Sul, Barreiras Holding e Copel tiveram desempenho inferior. Além disso, a posição de Americanas seguiu em mais um mês de contribuição positiva, com a remarcação do valor de face dos títulos de 23,7% do PU Par para 26% do PU Par.
O Fundo de debêntures incentivadas, tem a prerrogativa de manter 85% da sua carteira em debêntures destinadas ao financiamento de infraestrutura pela lei 12.431, concedendo assim a isenção de IRRF ao seu cotista. Nosso mandato então, se adequa a filosofia de investimentos em projetos que devem fomentar o crescimento econômico e por isso, referenciamos o nosso fundo ao IDA IPCA Infra, benchmark que em nosso entendimento tem maior alinhamento de interesses com os cotistas e corrobora com a visão de longo prazo da estratégia.
- Títulos com remuneração baseada em índices de preço, como IPCA, podem ter o valor financeiro alterado retroativamente, devido à substituição da variação projetada do índice pela variação oficial.
Ações:
No mês de junho, o Butiá Fundamental FIA registrou uma alta de 1,2%, acumulando um retorno negativo de 3,6% em 12 meses. O Butiá Long Biased FIC FIA teve uma alta de 1,6% no mês, e nos últimos 12 meses, caiu 0,7%. Em comparação, o Ibovespa teve uma alta rendimento mensal 1,5% e acumula um ganho de 4,9% em 12 meses.
O mês de junho foi marcado por volatilidade nos ativos de risco brasileiros, o que eventualmente resultou em um Ibovespa de lado. As incertezas quanto ao ambiente fiscal, impulsionadas por discussões políticas, contribuíram para uma abertura na curva de juros futuros, o que levou o mercado a descartar a possibilidade de novos cortes na Selic em 2024, resultando em uma desvalorização do real frente ao dólar.
A principal contribuição de performance dos fundos no mês veio do Itaú. O banco permanece sólido e com excelentes resultados, demonstrando ser uma opção segura em cenários de estresse. A Petrorio foi outro grande fator de rentabilidade no período, beneficiando-se da recuperação nos preços de sua principal commodity e da desvalorização do real, já que suas operações são dolarizadas.
As companhias que contribuíram mais negativamente no período foram a Boa Safra, que atua como multiplicadora e comercializadora de sementes, e o Grupo Mateus, varejista de supermercado presente nas regiões norte e nordeste do país. Ambas as empresas, por serem ligadas ao consumo e terem menor capitalização, sofrem principalmente com a deterioração do contexto macroeconômico do país no período, marcado pelas incertezas fiscais. Além disso, a Boa Safra também foi impactada por dúvidas sobre a situação de crédito do agronegócio no país e uma perspectiva logística desafiadora no curto prazo.
O contexto econômico nacional tem se mostrado cada vez mais desafiador. Continuamos realizando movimentos defensivos, mas ainda enxergamos que o Brasil possui valuations atrativos e acreditamos que seremos beneficiados em um eventual movimento de melhora, com grandes fluxos financeiros para os ativos de risco brasileiros.
Multimercado:
No mês de junho, o Butiá Excellence FIC FIM apresentou alta de 0,9% e o Butiá Excellence Previdência FIC FIM também registrou alta de 0.9%, acumulando um retorno positivo de 9,2% e 7,8%, respectivamente nos últimos 12 meses. Em comparação, o CDI teve um rendimento mensal de 0,8% e acumula um ganho de 11,7% em 12 meses. Como principais contribuições positivas tivemos as posições compradas em dólar, em ações no Brasil, e aplicadas em crédito privado. Como principal contribuição negativa, tivemos a posição aplicada em juros nominais e reais brasileiros.
O cenário econômico nos Estados Unidos continua apontando para uma desaceleração suave da economia. Os dados econômicos já vinham arrefecendo, e agora são acompanhados pelos dados de inflação. Assim, a perspectiva de início de cortes da sua taxa básica de juros é reforçada, com queda em toda a curva de juros, aumentando a probabilidade de dois cortes este ano, com provável início em setembro, ou, no mais tardar, em novembro. O S&P500 teve mais um mês de alta subindo 3,6%. Tivemos o primeiro debate eleitoral no país e o desempenho muito negativo de Joe Biden tem gerado pedidos por sua desistência da candidatura.
Apesar da continuidade de um cenário benigno lá fora, o cenário local manteve sua deterioração. O aumento do déficit fiscal, mesmo com a arrecadação federal batendo recordes, mantém a perspectiva negativa para o mercado. O dólar subiu mais 6,6% contra o real, fechando o mês a R$ 5,59. A alta do dólar, combinada a uma atividade interna forte, impulsionada pelos altos gastos do governo e uma taxa de desemprego que voltou a cair, atingindo 7,1%, uma das taxas mais baixas em muitos anos, apesar de uma abertura de vagas mais fraca apontada pelo CAGED, pressiona as expectativas de inflação para cima. Consequentemente, o banco central brasileiro interrompeu seus cortes de juros, sem apontar perspectivas futuras de novos cortes ou de altas, com um balanço de riscos, para qualquer um dos lados, relativamente equilibrado.
O mercado vem projetando juros reais e nominais cada vez mais altos para os próximos anos em suas taxas de mercado, seja pelo risco fiscal, pela deterioração das expectativas de inflação, ou pelo medo de que a diretoria do Banco Central a ser indicada no próximo ano adote uma postura mais política em suas decisões para a Selic. Todos estes fatores se retroalimentam, levando a um ciclo vicioso que pode ser desastroso para a economia. Devido a um valuation já depreciado e à presença significativa de empresas exportadoras no índice, que se beneficiam do dólar alto, o Ibovespa subiu 1,5%, apesar do cenário ruim.
Dado o cenário pessimista, mantemos nossas posições conservadoras e baixa exposição a risco. Os cenários econômicos americano continua positivo, o que nos faz manter uma posição comprada em sua bolsa, apesar de pequena devido aos níveis de valuation. No cenário local, os ativos e os prêmios se mantêm muito interessantes, mas o cenário, que já era ruim, continua a piorar. Assim, aumentamos nossa posição comprada em dólar contra real e reduzimos nossa posição aplicada em juros nominais curtos. Aumentamos marginalmente a posição comprada em bolsa brasileira, principalmente devido ao valuation, e mantemos posições aplicadas em juros reais curtos. Continuamos a manter a posição comprada em ouro.