Cenário Macro – Outubro 2024
O mês de outubro foi digno de uma preparação para o maior evento do ano, a eleição americana mais disputada das últimas décadas. Nos Estados Unidos, os desastres ambientais e sociais causados pelos furacões Helene e Milton também repercutiram na seara econômica do país. A China continuou a trazer novos estímulos econômicos a fim de reconquistar a confiança do consumidor interno. Por sua vez, no Brasil tivemos grandes movimentos causados pela preocupação quanto à sobrevivência do arcabouço fiscal até 2026.
A última semana de outubro foi marcada por grandes reviravoltas nas apostas referente a eleição americana. Ao longo do mês, Trump liderava nas principais casas de apostas com uma vantagem que chegou a bater mais de 20% nos chamados “swings states”, os 7 estados considerados chaves nessa eleição, concretizando um cenário de vitória republicana. Entretanto, ao nos aproximarmos da reta final, a candidata Kamala Harris ganhou força nos estados de Wisconsin e Michigan e conseguiu diminuir a vantagem. Mesmo com o ganho obtido na última semana, as pesquisas e os sites de apostas apontam para uma vitória de Trump.
No mercado de trabalho americano tivemos dados ambíguos nos números de criação de novos postos de trabalho. O payroll de setembro superou o topo das expectativas de mercado, apontando a criação de 254 mil vagas, em contrapartida o dado mais recente mostrou uma criação de apenas 12 mil vagas em outubro, com baixa visibilidade dos dados já que tivemos impactos dos furacões e de greves temporárias. Para a decisão do FOMC em novembro, depois de dados econômicos mais fortes depois da última reunião, o mercado reajustou as expectativas e atualmente precifica um corte nas Fed Funds Rate de apenas 25 bps, com um ciclo de corte mais lento e menor.
Na China, todos os olhos estão voltados para a reunião do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo (NPC) da China na primeira semana de novembro. A expectativa é que eles detalhem os números do pacote fiscal, dando mais visibilidade quanto a possíveis impactos econômicos. Ao longo do mês tivemos a divulgação do 3T24 do PIB, que avançou 0,9% t/t, abaixo das expectativas e com um qualitativo misto, com uma demanda doméstica ainda tímida, apesar do setor industrial aquecido.
No Brasil, a responsabilidade está toda nas mãos do governo, que busca montar um pacote de cortes de despesas visando minar a atual crise de confiança que vem sofrendo, já que o mercado vem pressionando ao máximo através de preços, câmbio por exemplo, para que soluções sejam propostas. Dentre as possíveis medidas temos um possível reajuste no Benefício de Prestação Continuada (BPC), combate aos supersalários e revisão do abono salarial. Fato é que o governo atual não tem como prioridade a redução ou a estabilização da dívida pública, afinal não fora eleito para isso, o que eles buscam é a manutenção da vigência do arcabouço até o ano eleitoral de 2026.
O cenário inflacionário brasileiro continua a se tornar cada vez mais complicado, com uma balança de riscos bastante altista, diante de um câmbio cada vez mais depreciado e com riscos altistas em alimentos, como por exemplo carne bovina, já que estamos presenciando uma virada de ciclo pecuário no Brasil, com os preços do boi gordo na B3 subindo cerca de 30% nos últimos 2 meses.
Mercado de Crédito Privado –Outubro/ 2024
O mês de outubro apresentou um cenário desafiador para a economia brasileira, com perspectivas de aumento na taxa básica de juros, a Selic, atualmente fixada em 10,75% ao ano. Conforme boletim Focus divulgado em 04/11, a expectativa é que a taxa Selic alcance 11,75% até o final de 2024, e para o fim de 2025 a projeção foi elevada de 11,25% para 11,50% ao ano.
Na próxima reunião do Copom, agendada para os dias 05 e 06 de novembro é aguardado um aumento de 0,5 %, elevando a taxa para 11,25%. Essa decisão se fundamenta na combinação de um câmbio desvalorizado, um mercado de trabalho pressionado e uma inflação que continua acima das metas estabelecidas. Em um contexto global de alta volatilidade, especialmente devido às eleições nos Estados Unidos e a instabilidade fiscal interna, o comitê deve adotar uma postura cautelosa, sinalizando a necessidade de novos ajustes para assegurar a convergência da inflação.
No contexto do mercado de crédito privado, observamos um impacto considerável desse aumento na Selic sobre as empresas que dependem de captações no mercado de dívida. Apesar de os economistas indicarem cortes na taxa de juros para 2025, a intensidade deverá ser menor em comparação a anos anteriores.
O volume de debêntures emitidas em outubro no mercado primário alcançou R$ 65,5 bilhões, sendo R$ 48,2 bilhões de emissões de debêntures não incentivadas e R$ 17,3 bilhões de debêntures incentivadas. Esse volume apresentou alta expressiva de 45% em relação a setembro. Dentre essas emissões, os títulos AAA representaram 64% do total, com uma taxa média de 0,9% em CDI e prazo médio de 6,7 anos. É relevante notar que algumas empresas AAA, como Cteep, Energisa e Raízen, conseguiram captar recursos a taxas inferiores às NTN-Bs, o que evidencia a demanda robusta por esses títulos. No mês seguimos mais conservadores, e mais seletivos em relação às nossas alocações nos fundos de crédito privado.
As projeções do Boletim Focus também vêm refletindo um aumento nas expectativas em relação à taxa de câmbio, com o dólar projetado a R$ 5,50 para o final de 2024, e um superávit na balança comercial que caiu de US$ 78 bilhões para US$ 77,8 bilhões para o mesmo período. A entrada de investimentos estrangeiros diretos permanece estável em US$ 72 bilhões para 2024, mas a expectativa de 2025 mostra uma leve retração para US$ 73,8 bilhões. Os fundos de crédito privado tiveram captação líquida no mês de R$ 31,5 bilhões e no ano de R$ 319,9 bilhões.
A curva de juros apresentou uma leve abertura nos prazos mais curtos, enquanto os vencimentos mais longos tiveram fechamento, influenciados pela expectativa de juros mais baixos nos EUA e o aperto monetário que persiste em solo brasileiro. Em suma, o cenário atual sugere uma vigilância atenta, onde a recuperação da economia e a forma como as empresas se adaptaram a essa nova realidade serão cruciais para estratégias de gestão.
BUTIÁ TOP CRÉDITO PRIVADO FIC FIRF
Em outubro, o BUTIÁ TOP CRÉDITO PRIVADO FIC FIRF apresentou rentabilidade de +0,88% (94,95% do CDI). Nos últimos 12 meses, o fundo acumulou retorno de +12,74% (116,01% do CDI). O carrego bruto no final do mês fechou em CDI + 0,86%, e a duration de 1,74 anos.
O fundo beneficiou-se do fechamento dos spreads da grande maioria dos ativos que compõem o portfólio. Como destaque positivo de performance, tivemos as posições de Smart Fit, Vix, ITAUSA e Localiza.
Seguimos com uma postura seletiva na alocação, dado o nível de preços e observando também o aumento da taxa de juros que tem impactado negativamente alguns títulos de empresas de setores mais alavancados.
BUTIÁ TOP ICATU SEG PREVIDÊNCIA FIRF CP
Em outubro, o BUTIÁ TOP ICATU SEG PREVIDÊNCIA FIRF CP apresentou rentabilidade de +0,84% (89,99% do CDI). Nos últimos 12 meses, o fundo acumula retorno de +12,44% (113,28% do CDI). Ao final do mês, o carrego bruto encerrou em CDI +0,90% e a duration de 2,00 anos.
A dinâmica do fundo foi semelhante à do BUTIÁ TOP CRÉDITO PRIVADO FIC FIRF. Como destaque positivo de performance, tivemos as posições Smart Fit, Vix, Armac Locação e Localiza.
Durante o mês não realizamos mudanças significativas nas nossas posições. Seguimos com uma postura seletiva na alocação, dado o nível de preços e observando também o aumento da taxa de juros que tem impactado negativamente alguns títulos de empresas de setores mais alavancados.
BUTIÁ PLUS CRÉDITO PRIVADO FIRF LP
No mês de outubro, o BUTIÁ PLUS CRÉDITO PRIVADO FIRF LP apresentou rentabilidade de +0,97% (104,89% do CDI). Nos últimos 12 meses, o fundo acumulou retorno de +13,19% (120,13% do CDI). Ao final do mês, o carrego bruto fechou em CDI + 1,52% e a duration de 2,09 anos.
Durante o mês, o fundo beneficiou-se do fechamento dos spreads da grande maioria dos ativos que compõem o portfólio. Como destaque positivo de performance, tivemos as posições Smart Fit, Vix, CSN e Minerva.
BUTIÁ DEBÊNTURES FUNDO INCENTIVADO INFRAESTRUTURA RF LP
Em outubro, o BUTIÁ DEBÊNTURES FUNDO INCENTIVADO INFRAESTRUTURA RF LP apresentou rentabilidade de -0,12% no mês. Nos últimos 12 meses, o fundo acumulou retorno de +11,40%, líquido de IR. O yield da carteira encerrou o mês em 7,00%, o que representa um prêmio de 0,04% sobre a ETTJ (Estrutura a Termo de Taxas de Juros de mesma duration da carteira), a duration ao final do mês era de 3,33 anos.
O resultado proveniente de risco de mercado foi positivo para o nosso fundo. Quando olhamos a performance dos principais índices atrelados aos Títulos Públicos IPCA+, o IMA-B 5, IMA-B e IMA-B 5+ renderam, respectivamente 0,7393%, -0,6504% e -1,6590%. Sobre o comportamento dos spreads de crédito, observamos estabilidade no mês.
No dia 24 de outubro foi efetivada a alteração do benchmark do fundo para o IMA-B 5, conforme deliberação dos cotistas em Assembleia Geral de Cotistas realizada em 09 de setembro de 2024. Este índice representa a evolução, a preços de mercado, da carteira de títulos públicos indexados ao IPCA (NTN-B) com prazos de até cinco anos.
Fundo de debêntures incentivadas, tem a prerrogativa de manter 85% da sua carteira em debêntures destinadas ao financiamento de infraestrutura pela lei 12.431, concedendo assim a isenção de IRRF ao seu cotista. Nosso mandato então, se adequa a filosofia de investimentos em projetos que devem fomentar o crescimento econômico e por isso, referenciamos o nosso fundo ao IMA-B 5, benchmark que em nosso entendimento tem maior alinhamento de interesses com os cotistas e corrobora com a visão de longo prazo da estratégia.
1. Títulos com remuneração baseada em índices de preço, como IPCA, podem ter o valor financeiro alterado retroativamente, devido à substituição da variação projetada do índice pela variação oficial.
Mercado de Ações – Outubro/ 2024
No mês de outubro o Butiá Fundamental FIC FIA registrou uma queda de 1,1%, acumulando um retorno negativo de 10,4% em 12 meses. O Butiá Fundamental Long Biased FIC FIA teve uma queda de 0,1% no mês, e nos últimos 12 meses, -5,0%. Em comparação, o Ibovespa teve uma queda mensal de 1,6% e acumula uma perda de -3,2% em 12 meses.
O mês foi marcado por grandes tensões nos mercados de riscos brasileiros, muito devido ao contexto fiscal do país, que aparenta seguir em trajetória de deterioração. Por meio de seu ministro da economia, o Governo Federal tenta apresentar medidas como contrapartida, mas esbarra na credibilidade de tais medidas. Esses fatores, agravados pelo momento eleitoral dos Estados Unidos – que nesse momento está em aberto – promoveu uma abertura das curvas e uma forte deterioração da nossa moeda em relação ao dólar.
Nesse contexto, a principal contribuidora de retorno no mês foi a Aura Minerals, empresa focada na exploração, desenvolvimento e operação de projetos de metais nas Américas que tem se beneficiado do contexto macroeconômico, que beneficia o preço do ouro, sua principal commodity. A Marcopolo foi outra grande contribuidora, dado principalmente a um conjunto de fatores microeconômicos positivos: expansão de receitas, margens, controle de endividamento, e em menor escala fatores macroeconômicos: exposição a mercados externos, que se beneficiam com a alta do dólar.
Os maiores detratores de performance foram Itaú e BB Seguridade, ambas afetadas por agendas microeconômicas. No caso de BB Seguridade, a maior exposição ao agro brasileiro gerou preocupação no contexto de fortes oscilações climáticas. Já para Itaú, uma piora na percepção do crédito no país pode ter impactado as ações do banco negativamente. Seguimos convictos com essas empresas que contribuem para contextos econômicos delicados com a robustez de negócios e a segurança de suas operações.
Uma maior percepção de risco fez com que as curvas de juros longas abrissem, e isso prejudicou a performance dos ativos domésticos. Seguimos mais conservadores, com caixa em patamares mais altos do que a média e mais seletivo em relação às nossas alocações. Continuamos vendo atratividade de retornos na bolsa brasileira, tanto em termos relativos quanto históricos e seguimos aguardando sinais internos positivos para aumentar nossa alocação.
Multimercado – Outubro/ 2024
Enquanto escrevemos esta carta, no início de novembro, as atenções globais se voltam às eleições americanas, que ocorrerão no dia 5. Os mercados vêm reagindo às perspectivas de vitória de cada um dos candidatos com maior intensidade conforme nos aproximamos do evento. O candidato Donald Trump vinha na liderança recentemente. Suas propostas apontam na direção de redução de impostos para as empresas americanas, aumento de tarifas globais, principalmente sobre a China, e restrições à imigração. Todas estas políticas tenderiam a aumentar a inflação e o déficit fiscal americano, pressionando as taxas de juros do país, principalmente as mais longas, para cima. Os cortes de impostos poderiam favorecer as ações americanas e suas políticas também favorecem a valorização do dólar. O presidenciável também se mostra favorável às criptomoedas. Os ativos vinham reagindo na direção esperada pela maior probabilidade de vitória de Trump, mas nos últimos dias algumas importantes pesquisas geraram uma percepção de maior indefinição da corrida eleitoral, levando o mercado a reverter parte deste movimento. Refletindo o favoritismo do candidato republicano, em outubro, a taxa de juros americanas de 1 ano e de 10 anos subiram aproximadamente 26 e 50 pontos base respectivamente, o DXY, mostrando a força do dólar contra moedas globais, subiu 3,2% e o bitcoin subiu 9,7%. O S&P500 caiu 0,9%, mas tivemos outros efeitos, inclusive da temporada de resultados sobre as ações do índice.
No Brasil, em outubro, seguimos com a performance negativa dos ativos em função da falta de resposta efetiva do governo à grave situação fiscal. O Ibovespa caiu 1,6% e o índice de Small Caps da Bovespa caiu 1,4%. O real desvalorizou mais 6,2%. As taxas de juros reais e nominais subiram de maneira significativa por toda a curva. Enquanto o governo não entregar uma revisão crível dos gastos, o mercado deve continuar a refletir a deterioração das expectativas, tanto em projeção quanto em preços dos ativos de risco. Diante da piora dos ativos, principalmente da alta do dólar, o Ministro Haddad cancelou uma viagem para se reunir com o presidente visando acelerar a divulgação das próximas medidas fiscais. O conteúdo destas medidas, além do resultado das eleições americanas, ditará a direção do mercado local nos próximos dias.
Nos fundos multimercado, tivemos como maiores contribuições positivas a posição comprada em ouro e em dólar contra o real. Como maior contribuição negativa tivemos a posição aplicada em juros reais. Continuamos com uma posição leve em risco. Temos uma posição comprada em bolsa americana devido ao cenário base benigno para sua economia, porém pequena, devido ao alto nível de preços e ao risco eleitoral. Mantemos nossa visão negativa para a economia brasileira enquanto não tivermos uma movimentação firme do governo para controlar a expansão fiscal, mantendo nossa posição tomada na parte curta da curva de juros nominais, uma posição vendida em Ibovespa e uma posição comprada em dólar contra o real. Temos uma posição aplicada na parte intermediária da curva de juros real, considerando esta uma posição mais defensiva para nos aproveitar de juros reais altos e adicionarmos proteção contra a inflação. Mantemos a posição comprada em ouro.