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Veja dicas para cuidar dos seus investimentos neste momento de incertezas
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Especialistas citam novas políticas fiscais, inflação, guerra na Ucrânia, retração do mercado chinês e recessão global como fatores determinantes

O ano mal engrenou – dizem que só começa mesmo depois do Carnaval, não? – e segue marcado por incertezas e especulações. Após o fim da corrida eleitoral, a pauta política segue influenciando os movimentos do mercado financeiro. Para quem está preocupado com o que fazer com o dinheiro, a pergunta que fica é: onde seria mais seguro investir? A resposta não é simples e para chegar a alguma conclusão é preciso estar atento a (muitas) variáveis. A começar por qual será a política fiscal adotada pelo novo governo, que impactará diretamente nos resultados dos investimentos realizados. Isso porque o conjunto de medidas escolhidas para equilibrar despesas e receitas públicas reflete na atração ou não de investidores brasileiros e estrangeiros. No cenário atual, em que a inflação segue assombrando o Brasil e o exterior, os principais Bancos Centrais do mundo têm sido pressionados a manter taxas de juros em alta, com o objetivo de diminuir o consumo e frear a desvalorização da moeda. Tudo isso sem contar os impactos da pandemia e da guerra na Ucrânia, que culminaram em crises energética e na cadeia de suprimentos.
Ao mesmo tempo, os temores de uma possível recessão global resultaram na queda dos preços de commodities – o que contribui para uma tímida desaceleração da inflação. E a perspectiva de uma possível recuperação econômica da China, após o relaxamento das medidas contra a Covid-19, gera boas expectativas para o segundo semestre do ano. No Brasil, a previsão é de uma taxa Selic em 13,75% até o final do ano. Taxa básica de juros da economia brasileira, o Sistema Especial de Liquidação e Custódia é referência no mercado para o financiamento de operações diárias, usado pelo Banco Central para controlar a emissão, compra e venda de títulos. Já o IPCA, índice que mede a inflação oficial no país, deve chegar a 5,9%, considerando que por semanas consecutivas tem estado em alta.
O crescimento econômico do país também foi atualizado. Segundo o boletim Focus de 27 de fevereiro, estima-se que o PIB cresça 0,84% em 2023, ante projeção anterior de 0,8%. Para 2024, a previsão para o crescimento do PIB se manteve estável em 1,5%. A previsão para a taxa de câmbio é de R$ 5,25 por dólar em 2023 e R$ 5,30 por dólar em 2024, apresentando estabilidade. As atenções também estão voltadas para os juros americanos, definidos pelo Federal Reserve (Fed), e para a taxa de juros conduzida pelo Banco Central Europeu (BCE). A expectativa é de que as taxas de referência das duas instituições continuem sendo elevadas para conter a inflação nos EUA (recorde nos últimos 41 anos), e também na Europa.
Nesse contexto, o consumo das famílias brasileiras e as estratégias dos investidores no mercado financeiro seguem oscilando de acordo com fatores como variações na taxa de desemprego, inadimplência e encarecimento do crédito. Na corda bamba da economia mundial, é preciso buscar equilíbrio na hora de investir. E informações corretas, para não cair em roubadas. Para ajudar quem está na dúvida sobre o que fazer com seu dinheiro, Encontro consultou cinco especialistas. Confira a seguir e nos quadros desta reportagem quais são as orientações tanto para proteger quanto para ampliar o patrimônio.
Apesar dos efeitos colaterais do processo desinflacionário, o Brasil apresenta boas oportunidades para investimento em diversos ativos. Para garantir um portfólio balanceado e bem posicionado, no entanto, é preciso saber qual o perfil do investidor e quais os tipos de investimentos são os mais adequados. Para os especialistas, tão importante quanto saber onde investir é conhecer a aptidão que se tem ao risco e desmistificar a ideia de ganho fácil e rápido. Mercado financeiro não é loteria. Comum nas frases dos especialistas, o termo suitability (aptidão, em português) refere-se à análise feita pelas corretoras e instituições financeiras para determinar o grau de tolerância ao risco de cada tipo de investidor, a fim de verificar quais são os produtos mais adequados aos seus objetivos, situação financeira e ao seu conhecimento sobre o setor. A análise é fundamental para diversificar a carteira de investimentos e fazer com que não se crie expectativas irreais sobre o potencial de rentabilidade. É nessa fase que se define em qual perfil o cliente se encaixa. São basicamente três. O investidor conservador busca a preservação do capital e possui baixa tolerância a riscos. Ou, ainda, tem a necessidade de resgatar a maior parte de seus investimentos em curto prazo. O de perfil moderado está disposto a arriscar um pouco mais e por possuir baixa necessidade de liquidez no curto prazo, investe em alternativas mais ousadas. Já o investidor arrojado está disposto a arriscar, não busca liquidez a curto ou médio prazo e aceita as oscilações dos mercados de risco, até mesmo com possíveis perdas momentâneas do capital investido. Em todos os casos, deve-se considerar os riscos dos investimentos e seus emissores, a existência de garantias e o prazo de aplicação. Seja para leigos ou veteranos, é preciso ter cautela e conhecimento ao montar uma cesta de investimentos.
Uma das opções é o mercado de renda variável que abrange produtos financeiros com diferentes níveis de risco e é uma importante ferramenta para o funcionamento geral da economia, a geração de empregos e a viabilização do consumo. É o meio pelo qual as empresas podem se capitalizar a um custo atrativo, definindo os preços de importantes commodities, as relações cambiais entre moedas, além de outras funções. Na renda variável, o retorno é imprevisível no momento do investimento, oscilando de acordo com as condições do mercado. Os investimentos incluem ações, fundos de investimentos negociados em bolsa (ETFs), fundos imobiliários (FIIs), Brazilian Depositary Receipts (BDRs, recibos que representam ações emitidas por empresas de fora do Brasil), mercado futuro (contratos de compra ou venda de ativos negociados na Bolsa de Valores para, como o próprio nome dia,  uma data futura), entre outros. “Para aqueles com um pouco mais de apetite a risco, investimentos em multimercados e em fundos de Private Equity, dentro dos percentuais recomendados para cada perfil, são sempre uma boa opção”, diz Marco Antonio Isidoro, sócio-diretor da Faros Private Investimentos.
Na renda fixa, o cálculo da remuneração é previamente definido e conhecido desde o momento da aplicação, a exemplo dos títulos públicos emitidos pelo governo federal e negociados no Tesouro Direto. Com rentabilidade superior à poupança e baixo risco, o ativo chama bastante atenção de investidores mais conservadores. Dentro da renda fixa, existem dois tipos de investimentos: os prefixados e os pós-fixados. Os prefixados possuem uma taxa de rentabilidade fixa e os pós-fixados são atrelados a índices como CDI, Selic e IPCA. Certificados de Depósito Bancário (CDBs) – quando se empresta dinheiro aos bancos – e as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), também se enquadram na categoria. “Para os conservadores, os CDBs de grandes instituições financeiras são os de menor risco”, afirma Cássio Bambirra, head de produtos e operação da One Investimentos. Em síntese, quem compra um título de renda fixa empresta dinheiro para empresas ou governos em troca de juros. “Acredito que o momento seja favorável à renda fixa por ainda termos juros extremamente altos e ótimas taxas para longo prazo”, diz Pedro Hermanny Diniz, sócio-gestor e fundador da Impacto Investimentos.
Aqueles que não dominam o mercado financeiro, podem optar pelos fundos de investimento. Criados por instituições especializadas no ramo, possibilitam o acesso facilitado a carteiras  de ativos do mercado financeiro e imobiliário, sejam de renda fixa, variável ou mista, administradas por gestores profissionais. “Nesse momento, chamam atenção os títulos do governo e crédito privado atrelado à inflação. Isso porque oferecem um juro real, com rendimento acima da inflação, que tem patamares historicamente altos”, diz Marcelo Mattos, CIO da gestora de recursos do Inter. Quem pretende diversificar possibilidades de ganhos e também de riscos pode optar pelos fundos de investimentos multimercados (FIM), que têm em suas carteiras ações, câmbio, renda fixa e outros. Outro fator importante a se levar em conta é a tributação de cada produto (veja no quadro quais são tributados e quais são livres do ônus). Os dois principais tributos são o Imposto de Renda (IR) e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Ambos incidem sobre os rendimentos e são recolhidos na fonte.
Os especialistas avaliam que é bom sempre ficar de olho no valor das commodities. Algumas das principais são as agrícolas – como soja, milho, café, algodão, biocombustíveis, boi gordo e trigo, que no momento não são bons negócios, já que estão com previsão de queda nos preços em 4,5% -, as ambientais e as minerais. Entre essas últimas, o mercado segue acompanhando as cotações do petróleo, que voltou a subir impulsionado pela perspectiva de aumento da demanda chinesa, maior mercado consumidor de commodities do mundo. Também tem chamado a atenção as variações no preço do minério de ferro, commodity diretamente influenciada pela demanda da potência asiática. “Diante de tantas variáveis, optar por ativos diferentes em setores distintos segue sendo a principal recomendação dos especialistas para reduzir os riscos e aumentar as chances de rentabilidade”, afirma Rodrigo Dias, CEO da Butiá Investimentos. De acordo com os especialistas consultados por Encontro, diversificação é a palavra de ordem. Além de uma boa assessoria, claro.
Pedro Hermanny Diniz, 45 anos, economista –  Sócio-gestor e fundador da Impacto Investimentos
(foto: Paulo Márcio/Encontro)

Para Pedro Hermanny Diniz, o Banco Central brasileiro foi de vital importância ao sair na frente, inclusive do Banco Central americano e europeu, iniciando o processo de aumento da taxa de juros antes dos demais. “Enquanto alguns outros países ainda estão no processo para controlar a inflação, já estamos no final do aumento da taxa de juros”, diz. A medida impacta fortemente no mercado financeiro, já que com juros mais altos há um desestímulo ao consumo e investimento na produção. “Acredito que o momento seja favorável à renda fixa por ainda termos um juros extremamente alto e ótimas taxas para longo prazo”, diz. Ele ressalta, contudo, que é importante que o investidor se atualize. No último mês de janeiro uma nova regra determinou que os títulos de renda fixa tenham a chamada “marcação a mercado”, o que significa que é preciso esperar o cumprimento de todo o período do contrato para obter, de fato, a rentabilidade estabelecida. A nova regra não muda a rentabilidade do investimento, apenas altera a forma como é exibido na carteira, dando mais transparência e informação ao investidor, especialmente para aqueles que optam por se desfazer do contrato antes do vencimento do título. “A principal característica dos investimentos é a mágica dos juros compostos. E o tempo é um fator determinante nessa matemática”, afirma Pedro.

Cássio Bambirra, 30 anos, engenheiro Civil com certificações no mercado financeiro – Head de produtos e operação da One Investimentos
(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)

Cássio Bambirra ressalta que, pelo fato de o Banco Central ter aumentado a taxa de juros,  chegando a 13,75% ao ano, o chamado custo de oportunidade está mais alto, tornando o cenário ainda mais desafiador para as empresas. Para o especialista, as consequências são revisão de margens, custos e processos de investimentos. “Esperamos um crescimento tímido no Brasil para 2023”, diz. Ele analisa que o setor do varejo enfrentará um ano bastante desafiador por causa das dinâmicas de inflação, já que historicamente é mais endividado e precisa de crédito para comprar e vender mercadorias. Por outro lado, há esperanças para um horizonte mais límpido com o processo de flexibilização da pandemia na China, o que pode trazer um novo boom das commodities. O  resultado seria um saldo de balança comercial mais favorável que impulsionaria o crescimento nacional por meio da exportação. No segmento de ações, diz Cássio, os setores de petróleo e exportadoras de commodities apresentam boas perspectivas, assim como os fundos imobiliários, que sofreram uma correção recente. “Hoje é possível fazer uma carteira pagando acima de 1% ao mês, líquido de imposto.” Os conservadores podem optar pelos CDBs de grandes instituições financeiras, que são de menor risco. “Também é importante pensar na dolarização do patrimônio nesse processo de diversificação de carteira. Dólar sempre é dólar.”

Rodrigo Dias, 45 anos, economista – CEO da Butiá Investimentos
(foto: Divulgação)

Para quem quer investir, a primeira coisa a se analisar é em qual perfil de risco se encaixa e o prazo que se pretende manter o contrato. “Quando bem enquadrado, evita-se que se tenha de vender um ativo por causa da volatilidade do mercado ou da necessidade de liquidez”, diz Rodrigo Dias. Para ele, investir somente porque o ativo está subindo ou porque alguém indicou pode induzir ao erro e limitar os ganhos. Em seu entendimento, uma carteira de investimentos coerente precisa ter uma boa diversificação de ativos, observando o risco, a liquidez e sempre se adequando ao perfil do investidor. “A depender do perfil de risco, você vai colocando mais peso em determinada classe de ativos em detrimento a outros. Sempre diversificando e balanceando para minimizar os riscos.” Por serem diversificados e contarem com gestão profissional, os fundos de investimento seriam uma boa opção. A longo prazo, a Previdência Privada também seria um bom investimento por apresentar vantagens no caráter de sucessão, não entrar em inventário e poder ser acessada por familiares de forma mais rápida, fora os benefícios fiscais disponibilizados. “Gostamos também do setor de commodities, principalmente óleo e gás e de locadoras de veículos, que têm apresentado bom desempenho, independentemente do ciclo econômico.”

Marcelo Mattos, 36 anos, economista – CIO da gestora de recursos do Inter
(foto: Divulgação)

Durante muito tempo, investir era algo para quem tinha muito dinheiro. Com o passar dos anos, o mercado financeiro se democratizou. Os bancos digitais têm uma parcela de responsabilidade em relação a isso. “O Inter vem revolucionando ao dar acesso a diferentes estratégias e produtos de investimento a tickets mais baixos, o que possibilita que pessoas com poder aquisitivo menor também possam investir”, diz Marcelo Mattos. Para quem quer começar, a principal orientação do especialista é entender em qual o momento da vida se encontra, os objetivos e os planos futuros. “É importante avaliar o quanto se é suscetível ao risco. Quem tem fonte de renda mais estável, como um funcionário público, pode arriscar mais nos investimentos. Já um autônomo, tem que dosar o investimento vendo o momento da carreira.” Para Marcelo, os cuidados previamente adotados são mais importantes que circunstâncias, como o patamar dos juros ou a chegada de um novo governo. O melhor é ter uma carteira equilibrada, de acordo com o perfil de cada um, que pode ter pequenas adequações de acordo com as oscilações de  mercado. A seu ver, existe uma escala em que título público e renda fixa oferecem menor risco. Depois, viriam as rendas fixas das dívidas de grandes empresas; os fundos imobiliários; empresas mais arriscadas; e as ações. “No momento atual, chamam atenção os títulos do governo e crédito privado atrelado à inflação. Isso porque oferecem um juro real, com rendimento acima da inflação, que tem patamares historicamente altos.”

Marco Antonio Isidoro, 40 anos, administrador de empresas – Sócio-diretor da Faros Private Investimentos
(foto: Daniel Mansur/Divulgação)

Respeitando o perfil de risco, algumas precauções são importantes: diligência quanto à concentração de classes de ativos, à escolha de gestores e à escolha dos ativos de crédito. “Movimentos de manada para um ativo podem se tornar muito especulativos. Temos como exemplo os investimentos em Bitcoin que caíram 66% em 2022”, diz Marco Antonio Isidoro. Segundo ele, ativos de inflação de longo prazo, ativos em  CDI  e ativos de renda fixa global estão bastante convidativos no momento. Para aqueles com um pouco mais de apetite a risco, investimentos em multimercados e em fundos de Private Equity, dentro dos percentuais recomendados para cada perfil, são sempre uma boa opção. “Com percentuais variando em função do momento, um pacote ideal de ativos conteria aplicações pós-fixadas em CDI, inflação, uma parcela de risco em fundos multimercados, ações e Private Equity, além da diversificação internacional, que é fundamental”, afirma Marco Antonio. Pensando no poder dos juros compostos no longo prazo, quanto mais cedo começar a poupar maior será a rentabilização dos investimentos. “O caso Americanas foi uma surpresa para todos do mercado. O alerta que deixa é que é sempre importante diversificar.” Com relação ao crédito privado, a recomendação é alocar somente de 0,5% a 1,0% do patrimônio total do cliente em um único emissor. O mesmo raciocínio é válido para uma carteira de ações. “A concentração em um único ativo traz um risco enorme para o portfólio.”

Entenda o que são investimentos de renda fixa
  • Tesouro Direto: plataforma que abriga títulos públicos: Tesouro Selic, Tesouro IPCA e Tesouro Prefixado. 100% garantido pelo Tesouro Nacional. Tributação sobre os rendimentos. Rendimento superior à poupança.
  • Certificado de Depósito Bancário (CDB): emitido por bancos e garantido pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para depósitos até R$ 250 mil por CPF. Tributação sobre os rendimentos.
  • LCI e LCA (Instituições financeiras): letras de Crédito Imobiliárias e Letras de Crédito do Agronegócio são garantidas pelo FGC para depósitos até R$ 250 mil por CPF. Isentas de Imposto de Renda.
  • Letras de Câmbio (LC): títulos de renda fixa emitidos por instituição financeira. Funcionam como um empréstimo que o investidor faz a uma financeira em troca de uma remuneração, que pode ser prefixada ou pós-fixada
  • Fundos de Renda Fixa: possibilitam o acesso facilitado a carteiras  de ativos do mercado financeiro e imobiliário, administradas por gestores profissionais.
Entenda o que são investimentos de renda variável (Por terem mais risco, também têm chances de maior rentabilidade)
  • Fundos Multimercado: política de investimento voltada para renda fixa ou variável, mesclando diversos fatores de risco, podendo aplicar em vários mercados, como ações, câmbio e outros.
  • Fundos Imobiliários (FLLS): investimento na construção ou aquisição de imóveis que  sejam locados ou arrendados.
  • Fundos de Ações: Compra de papéis de empresas que estejam sendo negociadas na Bolsa de Valores.
  • Fundos de Índices (ETFs): Replicam a composição de índices financeiros – como o Ibovespa ou o IBrX – e têm as cotas negociadas no pregão da bolsa, como as ações.
  • Câmbio: Aplicações baseadas em moedas.

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