Butiá Investimentos

Fevereiro 2022 – Carta Renda Variável
Veja como o mercado se comportou em fevereiro e confira o desempenho dos nossos fundos de renda variável.

Mercado

A guerra entre Rússia e Ucrânia é tema dominante, não apenas como foco das atenções, mas também como responsável pelos movimentos dos fluxos de investimento globais. Não vamos adentrar nas questões geopolíticas, nos atendo aos impactos no mercado financeiro. Começando pelos efeitos gerais de qualquer guerra, há um aumento da incerteza, devido à dificuldade de se estimar a duração e os impactos dos conflitos, esse aumento de incerteza direciona os fluxos para ativos considerados seguros e reserva de valor, como títulos do tesouro americano e ouro, e gera a saída de recursos alocados em ativos mais arriscados, como ações. O segundo impacto costuma ser inflacionário —o comprometimento de cadeias de produção e a redução dos principais produtos exportados pelos países envolvidos, seja por incapacidade produtiva, seja por sanções econômicas. Seguem-se impactos nos demais mercados como derivadas dos primeiros e dos impactos em fatores econômicos como juros e crescimento.

Dados os atores envolvidos, a guerra atual tem influência geopolítica e econômica superiores às demais guerras recentes, gerando um impacto proporcional na aversão a risco. O fluxo em busca de segurança levou o ouro se a valorizar 1,5% no último mês e, apesar do aumento das preocupações inflacionarias, não permitiu a taxa de juros de 10 anos do governo americano subir significativamente. A fuga de ativos de risco levou os mercados de ações internacionais a sofrerem, com queda de 5,7% do S&P e queda de 6,0% da Nasdaq em fevereiro.

Na questão inflacionária, os produtos com as ofertas que mais tendem a sofrer influência, por apresentarem alta participação da Rússia e da Ucrânia, são petróleo, gás, alumínio, níquel, cobre, aço, celulose, trigo e fertilizantes. O preço destas já estava pressionado pelos efeitos da pandemia e receberam substancial impacto adicional, com o Brent avançando mais de 10% e forte alta de diversas outras commodities no último mês. O impacto será sentido nos índices de inflação de todo o mundo, com tendência a agravamento em função da duração do conflito e da manutenção das sanções após seu final. Esse aumento inflacionário americano deveria levar suas taxas de juros a subir, mas recentemente temos visto que o efeito do fluxo em busca de segurança tem sido superior ao de aumento das expectativas de inflação.

Os desdobramentos secundários desse fator de maior incerteza e maior inflação serão sentidos também no crescimento, principalmente europeu, que deve arrefecer junto dos investimentos. Parte dos fluxos globais de ativos de risco deve continuar no mercado de ações, mas devem ir em direção às empresas ligadas às commodities, cujo preço está em trajetória de alta, como empresas de óleo e gás, produtores de etanol, exportadores de commodities leves e ouro. Esse cenário intensifica o processo de rotação de portfólio para nomes de valor, o que já vinha ocorrendo antes, explicando a alta de 0,9% do Ibovespa no mês, destino natural para este fluxo. Por outro lado, os impactos da inflação, dos juros e do crescimento local, fizeram com que o índice Small Caps caísse 5,2% no mês. O Ibovespa ainda pode se beneficiar de potenciais fluxos passivos e ativos advindos de investimentos que eram direcionados à Rússia, que será reclassificada pela MSCI como um mercado autônomo em vez de um mercado emergente. Os setores que mais devem sofrer incluem aqueles cujo insumo (custos) está na lista das commodities em alta, como companhias aéreas, dependentes do petróleo como combustível, como produtores de aves e carnes, submetidos a grãos como ração e produtores de cerveja e de massas, dependentes de grãos como insumos.

O cenário de investimento para os demais ativos locais, para além do mercado de ações, também tem sido impactado pelos fatores citados como consequência da guerra. A expectativa de aumento da inflação tem feito toda a curva de juros e de inflação implícita brasileira a apresentar uma alta significativa, impactando negativamente os investimentos com parcela prefixada. O real, que valorizou 3,0% em fevereiro, se torna uma incógnita, assim o desempenho das ações ligadas às commodities, onde o resultado vai depender de qual fluxo for maior, com o fluxo ligado à redução de risco levando à desvalorização do real e das ações e o fluxo de rotação pesando em favor de suas valorizações. Qual será mais forte dependerá da intensidade e duração da guerra e das sanções. A guerra tem eclipsado efeitos das eleições, que continuam em aberto, com propensão a uma disputa entre Lula e Bolsonaro, eclipsado o efeito da Covid, cujas contaminações e mortes têm caído tão rápido quanto subiram com a variante Ômicrom, e eclipsado os desafios fiscais, que apresentou fatores positivos, como a forte arrecadação de janeiro, e negativos, como os projetos de redução de impostos e de intervenções nos preços dos combustíveis.

AÇÔES: BUTIÁ FUNDAMENTAL (LONG ONLY e LONG BIASED):

Butiá Fundamental FIC FIA caiu 2,9% em fevereiro, levando sua alta a 5,4% no ano. O Butiá Fundamental Long Biased FIC FIM, caiu 2,8% no último mês, acumulando alta de 5,1% no ano.O  Ibovespa rendeu 0,9% no mês e 7,9% no ano. O índice Small caps apresentou uma queda no mês de 5,2% e no ano de 2,0%. A rentabilidade do CDI foi de 0,9% no mês e de 1,5% no ano. Apesar da alta de nossas posições em empresas de petróleo, a grande discrepância no retorno entre as empresas voltadas ao mercado interno e de menor capitalização em relação ao desempenho das empresas de commodities e de maior capitalização, nos levou a um desempenho negativo em fevereiro em relação ao Ibovespa.

Dentre as empresas que se beneficiam do cenário global, tivemos forte alta no setor de óleo e gás com Petrorio, que além de apresentar valuation altamente interessante, expectativa de crescimento de produção e redução de custos, serve de hedge para o resto das posições no caso de uma alta maior do petróleo. Nossa posição em Petrobras não se beneficia tanto da alta do petróleo, pois esta, por motivos políticos, não tem reajustado o preço dos combustíveis, cuja defasagem já supera 20%, a impedindo de capturar o benefício que um petróleo em alta normalmente a proporcionaria. Como hedge para a guerra, preferimos ficar posicionados em óleo e gás, mas não em agrícolas, pois os países envolvidos são também grandes exportadores de fertilizantes, principalmente nitrato de amônio, o qual tem a Rússia com representação de 60% da produção global, podendo esta sofrer com aumentos de custos e/ou redução de produtividade e por já terem vendas com preços das próximas safras já negociados, não se aproveitando de toda a alta das commodities. Também tivemos bom resultado com nossa posição em Vale, cujo valuation e geração de caixa permite ampla margem de segurança para variações no preço do minério e pode se beneficiar do cenário de curto prazo para este. Com exceção das posições voltadas a commodities e das de utilities, tivemos perdas em todos os outros setores devido à piora do cenário de riscos.

O cenário de riscos se agravou muito, por isso, apesar de ainda vermos valuations descontados, reduzimos nossa exposição em bolsa para levemente abaixo da neutra e reforçamos as posições em petróleo e em Vale, com redução de empresas do setor financeiro e de Carrefour, que apresentou forte valorização este ano. Apesar das movimentações, a carteira ainda é composta por uma combinação de alocação em companhias com dinâmica própria, cujo crescimento deve ser forte mesmo no caso de uma desaceleração da economia e cujas ações se encontram com valuations muito atraentes, alocação em empresas que atuam em setores defensivos, cuja demanda é resiliente, e alocação em companhias exportadoras, que dependem mais da economia global, do desenrolar da guerra e do câmbio. Aumentamos o peso deste último grupo recentemente.

 

MULTIMERCADO: BUTIÁ EXCELLENCE E PREVIDÊNCIA

Butiá Excellence FIC FIM apresentou uma rentabilidade de 0,1% em janeiro e de 2,2% no ano. Já o Butiá Excellence Previdência FIC FIM, teve retorno de 0,0% no mês e de 2,2% no ano. A rentabilidade do CDI foi de 0,9% no mês e de 1,5% no ano.  A principal contribuição veio da alocação comprada na taxa de juros americana de 10 anos. As maiores perdas vieram da alocação em bolsa brasileira.

A alocação na parte comprada da taxa de juros americana de 10 anos, em nossa visão, continua a representar um bom investimento devido à persistência inflacionária global, mas temos de ficar atentos para ver até que nível o fluxo de compra de títulos do tesouro americano, pressionando seus preços para cima e suas taxas para baixo, em busca de segurança devido à guerra, vai sobrepujar a pressão das taxas devido à persistência e piora do processo inflacionário.  Apesar da alta de nossas posições em empresas de petróleo, a grande discrepância no retorno entre as empresas voltadas ao mercado interno e as small caps em relação às empresas de commodities e de maior capitalização, dominantes no índice Ibovespa, que apresentou alta no mês, não nos permitiu ter um bom desempenho nesse mercado em fevereiro.

No cenário de incerteza global e nível de valuation atual, não temos posições de ações no exterior. Com este cenário de alto risco, mas um valuation mais interessante e setores mais defensivos para o cenário de guerra, apenas reduzimos nossa exposição em bolsa local para levemente abaixo da neutra no mercado acionário brasileiro.  Apesar dos efeitos inflacionários do cenário atual, vemos oportunidades na parte média da curva de juros brasileira e na inflação implícita na curva longa, cujas taxas nos parecem demasiadamente altas, mantendo nossas posições apostando em suas quedas. No momento também evitamos o dólar como ativo de proteção da carteira pelo alto custo de carrego para nós, além da possibilidade de mais entrada de fluxo estrangeiro, seja pelo diferencial de juros brasileiros e globais após as seguidas altas da Selic, seja pela possibilidade da continuidade da entrada de fluxo da moeda para alocação em bolsa buscando ativos de commodities e de valor.

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